Comportamento do Consumidor Inserido num
Grupo Social
O consumidor em um meio social interage com grupos, tendo como resultado,
comportamentos de consumo. A Psicologia Social e a Sociologia tentam explicar o
consumo a partir do objeto de analise “grupo” e não “pessoa”, como faz a
Psicologia. As regras determinam os papeis sociais, os tipos de produto e
serviços a serem consumidos. O campo de pesquisa nessa área é muito amplo,
incluindo grupos especiais, como família, e alguns papeis sociais em mudança,
como o de adolescentes e crianças.
Conceito de Grupos
Quando falamos de grupo, tocamos no assunto de
convivência, de influencias recíprocas e das relações entre pessoas.
Segundo Fromm, o ser humano, na sua evolução, perdeu sua
força instintiva;
não contando mais com padrões genéticos que possam
dirigir os comportamentos relativos à reprodução, à alimentação, ao ataque e à
defesa. Ele se tornou instintivamente fraco em comparação com outros animais.
Um animal recém-nascido pode sobreviver sozinho, um bebê jamais o poderia. “De
outro lado (não sabemos se foi uma compensação), o ser humano ganhou
consciência: é o único que pode pensar e se colocar no futuro; que pode ser ou
fingir ser outro que não ele mesmo (um ator, por exemplo); que ‘‘sabe” que vai
morrer e pode sofrer por antecipação; que pode construir e mudar planos de
vida; que pode escolher o que fazer o que vai ser o que vai possuir.
Nessa linha de raciocínio, a hipótese sobre a vida em
grupo afirma que, em razão dessa fraqueza e do conhecimento de seu aspecto
mortal, o ser humano viu se impelido a viver em grupo e a criar regras que lhe
possibilitassem sobreviver melhor e por mais tempo. cada um de nós se vê
solidário na convivência com nossos semelhantes, na possibilidade de, juntos,
diminuirmos nossa angústia pela morte.
Essa teoria afirma que o homem cria regras, as quais
podem variar conforme o grupo em que nasceu. Assim, o surgimento da sociedade
está ligado ao nascimento de regras. Como se reproduzir se alimentar, se
defender e atacar, como se sentir menos só. Esse conjunto de regras que molda
as relações entre as pessoas, visando ao seu bem-estar e à sua segurança, é o
que chamamos de sociedade. As escolhas das regras a seguir determinam as ações
de consumo.
Formação de Grupos:- Jonas.
Ao afirmarmos que um grupo existe quando é regulado por
um conjunto de regras, surge a questão de como ele se inicia. Esse conhecimento
auxilia os profissionais a criarem prognósticos sobre as tendências do conjunto
de regras e sua influência no consumo. Há uma diferença entre um aglomerado de
pessoas e um grupo: a existência, o conhecimento, a disseminação de regras,
etc.
Um conjunto de pessoas em um elevador não constitui um
grupo, pois elas não criaram regras entre si; ao contrário, juntam-se e
separam-se em poucos segundos.
Se, porém, houver uma pane no equipamento e o socorro
demorar duas horas,
Seguramente veremos surgir as primeiras regras de
convivência. O nascimento de um grupo ocorre quando os participantes criam as
primeiras regras que orientam as ações das pessoas que pertencem a ele.
O segundo passo da formação de um grupo: é a divisão de
tarefas. É o momento em que surgem outras regras e a necessidade de se
verificar quem pode cumpri-las. Esse é o nascimento dos papéis sociais.
As pesquisas sobre a formação de grupos mostram que em
todoseles surgem papéis bem estabelecidos, como o líder, o do contra, o
apaziguador. Há evidências de que, com o tempo, os papéis adquirem contornos
mais definidos e o grupo parece chegar a um equilíbrio.
O terceiro passo do nascimento e da manutenção de um
grupo: é a cristalização das tarefas. Conforme as pessoas se especializam nos
seus papeis e surge uma estabilidade de regras e relacionamentos, nasce outra
regra. É a regra da não-mudança. A existência das regras do grupo é mais
importante que as habilidades ou transformações das pessoas. Fundamentadas em
evidências, as teorias sobre grupos concordam que,quando um grupo cristaliza
seus papéis e ganha equilíbrio, ganha também uma força contrária, que tende à
desintegração do grupo. Uma explicação possível é que,quando pessoas se veem limitadas
nas suas ações, não podendo mais criar, tentam fazer pressão para que a
situação mude. Já comentamos a busca humana da superação de limites.
O quarto passo na formação de um grupo: é a quebra das
regras e a queda dos líderes. Cedo ou tarde, a situação de vida das pessoas e
suas expectativas mudam, forçando transformações ou a extinção das regras do
grupo. Quando um grupo se transforma ou se extingue, as pessoas se unem em
novas regras, reiniciando o processo.
A Identidade grupal e a relação com o consumo
Cada pessoa busca criar uma imagem de si mesmo,
respondendo à questão “Quem sou eu?”. Essa imagem é construída através de
experiências: seus limites e capacidades, suas ideias suas emoções e conceitos,
seguindo regras de convivência. A identidade, portanto, é uma construção
mental, uma teoria do sujeito sobre si
próprio. A identidade determina uma série de
comportamentos, regulando as ações. Talvez haja maior probabilidade de um
sujeito que se considera “inovador” compra produtos novos que o “conservador”.
A identidade grupal:é o conjunto de adjetivos e regras de
comportamento de cada pessoa dentro do grupo. isto é, especificamente nassuas
relações com os grupos aos quais pertence. Quando se diz que alguém é “dark”
ou”patricinha” se refere a um grupo ao qual essa pessoa pertence e a um
conjunto de comportamentos. Conhecendo as regras de identidade grupal, de um
nicho de mercado, podemos compreender os hábitos de consumo dos sujeitos do
grupo e criar estratégias que levem ao nosso produto.
Um produto bem brasileiro, a novela televisiva, apoia-se
na base de que seus consumidores veem nas personagens um estilo de vida a ser
imitado, uma identidade bem delimitada de quem sou eu (porque as personagens
repetem algumas falas que as identificam), uma espécie de grupo ao qual
gostariam de pertencer, e o caminho para tal são os comportamentos, incluindo
os de consumo. Não é por acaso que um capítulo de novela está recheado de
merchandising.
Papéis e grupos especiais: a família.
Grupos especiais, como o familiar, em torno do qual há
uma variedade imensa de negócios, geram muitas pesquisas. A seguir, um resumo
de algumas teorias vigentes sobre a família:
A família biológica: a função dos pais é prover a
sobrevivência de seus filhos até que eles tenham condições de inverter a
situação.
Em termos de consumo o profissional usa estratégias
dirigidas às necessidades básicas de sobrevivência, tais como expostas na
teoria de Maslow (1954). Produtos e serviços que diminuem os riscos de vida,
como hospitais, exames laboratoriais, armas, campanha de prevenção de
acidentes, estão entre os que utilizam imagens fundadas no conceito de família
biológica.
A família
psicológica: a função dos pais é prover a segurança emocional necessária a seus
filhos para que estes desenvolvam suas capacidades e adaptações. Em termos de
consumo o profissional usa estratégias dirigidas aos laços afetivos que o
consumidor teria com os pais e filhos. Praticamente toda a linha de produtos
infantis e de bebês o adota.Uma empresa utilizou durante anos uma frase
que expressava esse conceito- “Não basta ser pai, tem de participar” – com a
mensagem clara de que família existe para criar e manter laços afetivos, embora
o produto vendido fosse destinado a pequenas lesões.
A família como realização pessoal: o conceito de que a
função dos filhos é concretizar os sonhos irrealizados pelos pais. Acreditando
nessa abordagem, alguns profissionais de Marketing têm criado estratégias de
produtos e serviços dirigidos aos filhos, mas veiculando uma mensagem de que
seria algo desejado pelos pais em outros tempos. Alguns fabricantes e
distribuidores de brinquedos eletrônicos têm mostrado pais brincando tanto
quanto ou mais que os filhos. A venda de produtos utilizando a imagem dos pais
orgulhosos de seus filhos (nas mais diversas situações) também é amplamente
explorada.
A família sociológica: ensina aos filhos os modos de
convivência grupal: a ética e a sociabilidade. O profissional usa estratégias
que visam dar ao consumidor a impressão de adaptação e crescimento social. Como
exemplospodemos citar as propagandas de escolas particulares, que utilizam o
“refrão” de que preparam o jovem para uma carreira reconhecida, além de lhe dar
uma formação ética.
A família econômica: condições econômicas para os filhos
e, em ultima analise, sua própria condição. A infância e adolescência seriam
vistas como uma fase de “investimento” rumo à maturidade econômica. O
profissional que assume esse ponto de vista cria estratégias que reforçam o
patrimônio familiar ou pelo menos a esperança de que venha a existir, tal como
se verifica na aquisição de imóveis, cadernetas de poupança ou escolas
particulares que garantam um futuro profissional rentável.
Devemos ter cuidado com o uso de teorias, conhecendo suas
origens e os fatos, constituintes da época de sua criação.Em um interessante
fórum de debates na Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo
(ESPM), A psicóloga Rosely Sayão lançou a hipótese de que a grande mudança na
estrutura da família tradicional para moderna está em foco: a tradicional tinha
foco os pais (consequências da autoridade e da imitação da parte dos filhos) e
a moderna tem foco nos filhos (consequência da autoridade diluída e da
liberdade de escolha, desde crianças). Essa mudança de foco explicaria o enorme
poder de consumo dos adolescentes e das crianças ( porque podem decidir).As
ações de marketing e de comunicação que tem como fundamento o modelo de grupo
familiar precisam criar uma base de teoria antes da ação.
Muda o Papel da mulher, muda a organização da família.
Um dos fatores de mudança da família está na entrada da
mulher no mercado de trabalho. Com as mudanças mercadológicas, um consumidor
mais exigente, o aumento da concorrência, avanço da tecnologia, fazem com que a
mulher entrem no mercado de ponta. Adquirindo participação na produção e no
orçamento doméstico, a mulher se viu na condição de poder modificar o processo
de decisão de compra familiar. Com a saída da mulher de casa, uma criança não
necessita mais de mãe para ser alimentada, nem para se sentir segura, nem para
aprender as regras sociais. Quebra-se a espinha dorsal da definição biológica
(os pais que cuidam da sobrevivência), da psicológica (que estão presentes e
dão segurança) e da social (que ensinam um código de ética), e se fortalece a
definição econômica.
Nesse desequilíbrio de função e papéis, papéis,
quebrou-se a hierarquia rígida pai mãe-filho, os pais passaram a conversar com
seus filhos desde cedo, fazendo-os participar das decisões. Embora aprendamos
teorias na faculdade, elas devem ser revistas, e, se possível, substituídas por
outras mais atuais.
Muda poder da criança e do adolescente, muda a
organização da família.
A ideia de infância tal como se entende, nos hoje é um
dos resultados da revolução cultural e industrial do século passado. Com a
ascensão econômica a classe média, foi nascendo um mercado consumidor desses
aprendizes, primeiramente voltado para a educação, aos poucos, focado no lazer,
sexualidade e convivência social. A explosão econômica do pós-guerra e a
globalização da comunicação facilitaram a ascensão do grupo adolescente.
Atentos a esses desenvolvimentos, os profissionais perceberam que os jovens
estão decidindo cada vez mais cedo o que consumir.
O consumidor infantil é um grande mercado que já decide
por si e, muitas vezes, tem até dinheiro para a compra.
Com a multiplicação de tarefas e exigências profissionais
a que os pais estãosubmetidos e a variedade das correntes culturais, os adultos
começaram a perder a segurança e a certeza sobre os rumos que pretendiam dar
aos seus filhos e às suas próprias vidas. Temas amplos, como violência,
competição, especialização, levantam dúvidas sobre como educar as crianças.
Será que devemos proteger a criança de um mundo hostil, só permitindo a ela
assistir desenhos animados na TV? Ou será que devem conhecer a parte ruim da
realidade do mundo (violência, loucura, ganância) para se prepararem melhor?
Devemos deixar que experimentem sua vida desde cedo, aprendendo com os erros?
Ou devemos protegê-los até que tenham consciência e força para reagir?
Segundo Gunter e Furnham (1998), as crianças são um
mercado por direito,já que possuem o dinheiro e a liberdade de opção de como
utilizá-lo. Além disso,aspectos econômicos e culturais criaram no grupo de
crianças um segmento com estilo de vida específico.
Inúmeras pesquisas relatadas no livro de Gunter e Furnham
mostram que o desenvolvimento da criança como consumidora está relacionado ao
treino e à participação dos pais nesse tipo de comportamento; quando ela se
torna mais socializada, sofre a influência dos amigos da escola e de outros
adultos que participam de sua educação.
Uma pesquisa datada de 1991 (Gunter e Furnham, 1998, p.
67) mostra que, entre os meninos, os produtos esportivos são os mais
consumidos, enquanto entre as meninas são os bichinhos de pelúcia. O motivo de
consumo dos sujeitos é predominantemente o prazer.
Buscando teorias mais atualizadas, Webley (apud Gunter e
Furnham, 1998, p. 113) argumentou que, em pesquisas sobre o comportamento de
consumo das crianças, deve-se buscar uma teoria distinta, econômica, em vez de
se utilizarem as mesmas teorias aplicadas à educação. Segundo Webley, o aspecto
importante nos fatores econômicos é que eles formam a base do poder na
sociedade e nas relações interpessoais, tornando a posse um ato importante.
Partindo dessa premissa, pesquisas questionando as crianças sobre a origem do
dinheiro (que possibilita a posse) revelaram quatro categorias: 1) as crianças
não têm a menor idéia dessa origem; 2) o dinheiro é independente do trabalho –
alguém o dá às crianças; 3) o dinheiro se origina na troca com o comerciante;
4) o dinheiro vem do trabalho. Como o consumo é um comportamento de troca,
pesquisas nessa linha são muito importantes.
As crianças, portanto, não são adultos em miniatura que
consumem. Elas têm estilos próprios, motivos próprios e processos de decisão
próprios. O quevalorizam nos produtos pode ser muito diferente do que é
valorizado nos grupos adolescentes e nos grupos adultos. Para realizar
pesquisas com crianças, portanto, é necessário deixar de lado algumas teorias e
pressupostos da Psicologia e da Sociologia clássica, entre os quais a
afirmativa de que o comportamento infantil é imitativo.
Estudo feito sobre o Livro: Comportamento
do Consumidor Autor: Ernesto Michelangelo Giglio 3ª
Edição, abordando o Capitulo: 04 –O modelo de tipologias do
consumidor.